Em 2000, Carmen Gonzalez, gerente de marketing de cartões da Leader, fez seu primeiro check up. Embora levasse uma vida que considerava saudável, se alimentasse bem e não estivesse gorda, o resultado a surpreendeu. "Tudo estava alterado. Meu colesterol era de 242. Eu sempre me achei maravilhosa e sem problemas de saúde".
Na época, Carmen ocupava um cargo executivo em um grande banco. O check up foi recomendado pela companhia. "Até então eu só fazia exames básicos. Nunca imaginaria que corria o risco de enfartar", conta. Gilberto Ururahy, diretor médico da Med-Rio, empresa especializada em check up, afirma que a doença está crescendo entre as executivas. Em 1990, de cada nove infartos, um ocorria em mulheres. No ano passado, esta proporção subiu para um em cada três.
A empresa realizou uma ampla pesquisa com seus mais de 50 mil pacientes, dos quais 10 mil do sexo feminino, usando dados coletados ao longo dos últimos 20 anos. Nesse levantamento, constatou que enquanto a saúde dos executivos apresenta melhoras, a das executivas está se deteriorando. "Elas se preocupam mais com a silhueta e por isso tomam mais anfetaminas. Mesmo as que têm uma jornada dupla ou tripla, porque cuidam dos filhos e administram a casa, viajam cada vez mais", diz o médico.
Dados da pesquisa mostram que o número de homens com vida sedentária diminuiu mais que o de mulheres, entre 1990 e 2009. O percentual de homens fumantes também caiu de 35% para 15%, enquanto o de mulheres fumantes passou de 45% para apenas 35%. A gastrite é outra doença que vem diminuindo entre eles e subindo entre elas. Até o percentual de gordura no sangue das executivas se igualou ao dos executivos.
A SulAmerica Saúde realizou pesquisa similar, entre 2004 e 2009, com seus segurados e constatou que o índice de estresse era maior entre as mulheres. A doença atingia 53% delas contra 30% dos homens.
Gilberto Ururahy lembra que a vida das executivas não é fácil. Muitas, além de enfrentar longas jornadas de trabalho, ainda fazem cursos à noite. Era o caso de Carmen. "Eu fazia mestrado quinta, sexta e sábado o dia inteiro, tinha dois filhos entrando na adolescência e me estressava muito com os problemas da casa". Ela conta que levou pelo menos dois anos para botar a saúde em dia. "Percebi que me alimentava com muito sanduíche. Como não estava gorda, nem engordando, achava que estava tudo estava bem", diz. Hoje, Carmen faz ginástica e pratica boxe em uma academia depois do expediente. "Também mudei minha alimentação ao ponto de não comer mais carne vermelha", diz.
O médico explica que a preocupação com o estresse não é só dos pacientes. As empresas também estão, a cada dia, lançando novos programas de saúde para os funcionários. "Quem vai querer um executivo enfartado em casa sem saber quando ele vai voltar ou se vai voltar?". Para ele, essa é uma visão prática das companhias, mas que acaba beneficiando o colaborador.
Além de cuidar da saúde, Carmen também passou a dividir com o marido e os filhos as tarefas de casa. "Imaginei que se ficasse em cima de uma cama no hospital eles teriam que fazer as coisas, então achei que seria melhor eu ter saúde", brinca. A executiva conta que hoje divide bem melhor seu tempo profissional com o de mãe e o de mulher. "Claro que existem períodos de maior estresse, mas não deixo que eles sejam permanentes."
Para Gilberto Ururahy, é cada vez mais comum ver as pessoas chegarem aos 100 anos, uma vez que a humanidade caminha para ser mais longeva. "Mas só vai chegar lá quem cuidar da saúde em todos os sentidos", diz. Ele explica que o estresse gera adrenalina, que pode causar hipertensão, aumento do colesterol e do cortisol, responsável pela redução de imunidade, depressão, aumento do apetite, entre outras doenças.
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