A reunião é a primeira realizada sob o governo da presidente Dilma Rousseff, além de também marcar a estreia de Alexandre Tombini no comando do Comitê de Política Monetária (Copom), instância do BC que decide os juros no país.
Com a elevação anunciada nesta quarta-feira, o Banco Central interrompe um período de seis meses de estabilidade na taxa, que permaneceu inalterada nas últimas três reuniões.
A elevação da Selic reflete a preocupação da autoridade monetária com a escalada inflacionária no país, puxada principalmente pela alta dos alimentos no mundo, mas também pela forte demanda interna, que pressiona preços de outros setores para cima.
No ano passado, o índice oficial da inflação no país (IPCA) subiu 5,91%, a maior alta dos últimos seis anos.
Para este ano, as estimativas continuam em alta: os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central esperam um IPCA de 5,42% no acumulado até dezembro, mas já há quem fale em uma inflação de 6% em 2011.
Recado
Além de servir como instrumento no combate à inflação, a decisão pela subida nos juros teria ainda uma outra motivação, segundo analistas: a de passar um “recado” ao mercado quanto à autonomia do Banco Central e reforçar o “compromisso” do BC no combate à inflação.
Os dois assuntos foram fortemente discutidos durante a campanha eleitoral, com questionamentos sobre qual seria o posicionamento da então candidata, Dilma Rousseff, nos principais assuntos macroeconômicos.
Na opinião do economista Rogério Mori, da Escola de Economia da FGV-SP, a elevação dos juros nesta primeira reunião do BC sob o governo Dilma tem um cunho “simbólico” ao passar uma “importante mensagem aos agentes de mercado”.
“Esse aumento veio para segurar a inflação, mas também como uma importante sinalização aos mercados quanto ao compromisso do novo governo no combate à alta dos preços”, diz.
“Existe aí uma forte conotação de recado, ou seja, de que o governo da presidente Dilma Rousseff não será tolerante com a inflação, como se chegou a cogitar”, acrescenta.
‘Vida nova’
Na avaliação da Rosenberg Consultores, a reunião desta quarta-feira marca “vida nova” na gestão do Banco Central, com uma política mais “consistente”.
“Há sinais suficientes para crer em uma postura mais consistente do que a confusa política dos últimos meses da gestão Meirelles. O Banco Central perdeu, no último semestre de 2010, muito de sua credibilidade adquirida em anos de execução monetária quase impecável”, diz a consultoria, por meio de nota aos clientes.
Diante do agravamento do quadro inflacionário, diversos economistas passaram a questionar a decisão do Banco Central em manter a Selic inalterada nas últimas reuniões.
Um dos argumentos da autoridade monetária para a manutenção estava na avaliação de que o aumento de preços, além de sazonal, estava restrito aos alimentos.
Mas a divulgação do IPCA relativo ao ano de 2010 indicou também forte alta de preços em diversos outros setores da economia, como em habitação e serviços.
Outros economistas, no entanto, defendem que a equipe econômica tomou outras medidas de contenção do consumo no país e que era preciso “aguardar” os resultados antes de iniciar um novo ciclo de alta dos juros.
“Não acho que tenha havido demora. O timing do Banco Central foi certo, considerando que outras medidas, como a de contenção do crédito, haviam sido tomadas”, diz o professor da FGV-SP.
Câmbio
Se por um lado a medida poderá ajudar a conter a inflação, a elevação da Selic também impõe um efeito colateral sobre a economia: uma valorização do real frente ao dólar.
O Brasil tem hoje a maior taxa de juros reais do mundo e, quanto maior essa taxa, mais os investidores tendem a aplicar no país, já que em diversos mercados, como nos Estados Unidos e no Japão, os juros estão próximos de zero.
A forte entrada de dólares no país tem sido a principal razão da apreciação da moeda brasileira, movimento que tende a prejudicar a receita dos exportadores e estimular as importações.
A valorização do câmbio tem sido uma das principais preocupações da equipe econômica. Diversas medidas para conter esse processo já foram tomadas, entre elas uma maior taxação do capital estrangeiro e o compulsório sobre o câmbio – mas a moeda brasileira continua em um patamar elevado.
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